quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

pedido de ano novo (2)



(prometo que vou entender seu silêncio)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

2009


Todo fim de ano eu me apaixono perdidamente por você.
Mas só no fim do ano.

Depois é só fumaça.

domingo, 29 de novembro de 2009

quebra-cabeça


estarei gostando tanto assim? ou é de pedacinhos seus que transformo crio recrio invento minto suponho devaneio alucino a imagem do seu rosto? de longe vejo pouco. muito pouco. e são nas imagens gravadas na retina que desenho o jeito que a gente deve ser. e espero. espero. espero muito. e sigo pelas ruas pelas noites pelas estórias secretas procurando você onde não acho, nem parecido, nem do mesmo tamanho, nem do mesmo jeito. e talvez por ser difícil eu queira tanto. e porque vou criando um que não é exatamente. ou é, do meu modo.
será que a gente não inventa sempre?
a cena como invenção.
a invenção sua.
meu desejo.

saudade, seu besta.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

os quereres


Quero. Quero muito. Quero tanto. Quero o bastante. O suficiente. O tanto que transborda. Quero quase querendo querer menos. Ou diferente. Ou quase. Quero. Quero sim. Quero sem pensar. Quero sem dúvida. Quero sem vergonha. Quero sem querer. Quero fácil. Quero em prol das coisas justas. Ou bonitas. Ou grandes. Ou insuportáveis. Quero. Quero muito. Quero já. Querendo querendo querer mais. Quero querendo esquecer. Esqueço querendo. Lembro pra querer. Escancaradamente diante do mundo inteiro, eu quero. Escancaradamente declarado, desejado, pulsional, absoluto, indecifrável. Quero ao máximo. Quero aqui. Quero perto. Quero dentro. Sem medida, sem lógica, sem causa, sem casa. Em eterna primavera, eu quero. Eu quero. Eu quero. Eu quero. Quero hoje. Quero agora. Quero sempre.


Quero mais.

domingo, 8 de novembro de 2009

te...


eu quero guardar você
fotografar numa imagem paralítica
política
histórica
orgânica
ali de corpo inteiro
deitado em minha cama
então de onde veio?
e aí pra onde vai?
Luís Camões Pessoa
um vinho português
Milão é minha sede
vontade de dizer


(te...)
(te...)


eu quero lembrar você
de não falar bobagem
de sempre dar notícia
aqui bem do meu lado
vem pra me conduzir
e não se cansar nunca
carícia em tom jobim
olhar apartamento na Augusta

(te...)

eu quero ganhar você
na metafísica
do incrível passo
(posso?)
no incongruente
que essa trama traça
por ser o único tão vasto
impuro
é mais que o dito
o prometido
o justo

seguimos juntos.


(te...)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

basta quase nada


num fluxo contínuo eu quero conseguir dizer
isso tudo
isso mesmo
isso nada
isso tudo que por ser tudo não faz
sentido junto
sentido justo
sentido mata
eu não entendo as palavras
eu não entendo nada
eu não entendo a conduta
eu não entendo as coordenadas


porque foi você quem telefonou de madrugada
palavras soltas
palavras claras
pra dizer um pouco de muito
e de um pouco de falta
numa saudade única
numa saudade errada
--------------------------
e nessa vontade mútua
do improvável
existe uma distância
quem sabe uma cilada
e é calando que talvez
possamos ser juntos
o impensável.


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Uma canção


Penso em te dar os cheiros dos insetos,
o perfume de cadáveres mortos,
milhões de braços amputados pela guerra,
o sangue de bebês abortados.

Carros incendiados,
casas depredadas,
milhões de escândalos,
crimes contra a humanidade,
os viciados.

Penso em te dar os que morre de fome,
a sede dos que matam em nome de Deus,
o câncer,
a metástase,
a dor das mães mutiladas de saudade.

Os desaparecidos,
os vencidos pelo medo,
o colorido de ferro e sangue dos acidentados,
os que seguem sem querer.

Mas quero te dar amor.
Mas quero te dar amor.
Te dar amor.

A vida brilha mais forte.
Nossa alma nos protege.
É demais nossa vontade.
Vem e faz.
Juntos, fortes.
Vem e mais e mais e mais amor.
Vem e faz a vida valer.

A vida vai além do que trás.
Faz a vida além do que vale mais.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

laringe


minha garganta dói. minha garganta dói. minha garganta dói. faz tempo que não sentia minha garganta doer assim. engulo levemente, a saliva atravessa o corredor escuro da extensão do pescoço em passos lentíssimos, slow motion, muito cuidado pra não chatear a pobre da campainha, mas dói. dói. dói. okay. já entendi que o dia todo vai se alimentar de narrativas em silêncio. e que enfrentar um dia assim é muito difícil pra mim. porque eu sinto que um dia assim como uma vida assim sem palavras ou sons é muito triste. tudo parece remeter à uma atmosfera noir em que eu não me encontro. sinto-me pequena, minúscula, cisco. sem voz.
minha garganta dói. faz tempo que não sentia minha garganta doer assim. a última vez que minha garganta doeu desse jeito eu tinha 15 anos. com 15 anos eu tinha dores de garganta bastante freqüentes, quase sempre seguidas por crises de choro e melancolia. lembro do meu avô me perguntando porque chorava tanto quando tinha dor de garganta. eu tentava dizer, e chorava mais ainda.
com o tempo as dores de garganta foram sumindo. cresci um pouquinho e o ponto fraco do corpo passou a ser o nariz. ouvi dizer outro dia que todo ser humano tem um ponto fraco no corpo, uma parte que pede socorro desesperada quando há queda de resistência. resistência à quê? ... sei que cresci um pouquinho e meu ponto fraco deixou de ser a garganta e virou o nariz. dizem que a garganta é o lugar mais emotivo do corpo. nariz é pior, é respiração. e isso é bem mais complexo.
minha garganta dói e eu tento ensaiar músicas em silêncio. imaginar melodias sendo compostas pelo som que atravessa minha boca. tento exercitar o olhar, a atenção visual pras coisas e estabelecer um diálogo verdadeiro com a minha cachorra, que não sai de perto de mim nem por um instante. ela consegue latir.
minha garganta dói. minha garganta dói. minha garganta dói. dizem que a garganta dói sinalizando alguma coisa que não vai muito bem com o coração. mas eu sinto ele batendo direitinho ali, tique-taque, tique-taque, tique-taque. consigo colocar a mão do lado esquerdo e ouvir até o timbre que ele faz. pra ouvir o timbre colocando a mão do lado esquerdo do corpo é preciso que se tenha muita coragem. pode ser que se ouça um timbre que não se gosta, e isso é muito perigoso.
minha garganta dói e me toma as palavras. me deixa oca. e num grito mudo tento ouvir o que é que ela está querendo dizer.



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

_


Outro automóvel apontou o freio.

_


E num silêncio cinza fez-se o gesto
Pára, menina. Pára.
Vê em torno, escuta, respira
O círculo da alma
_

Rompe.
Sê inteira, alta
_

Vive.
Retorna ao instante
_
_
_

Canta
(...)

domingo, 4 de outubro de 2009

Voar



Domingo, subindo uma rua com uma mochila nas costas.

Espera o sinal fechar.

A rua está vazia mas ele espera o sinal fechar.

Não há carros mas mesmo assim ele espera porque sabe que se atravessar é o fim.

Atravessa a rua vazia.

É atingido por um automóvel em alta velocidade que tem toda a razão. O sinal estava verde pra ele.

Ele tinha esse direito.

Atigindo por um carro em alta velocidade e arremessado metros de distância.

A mochila voa alto.

O automóvel não teve culpa. O sinal estava fechado pra ele.

O automóvel não freiou porque não tinha culpa. O sinal estava aberto pra ele.

Domingo, subindo, a rua, a mochila subindo, subindo, em alta velocidade.

Era uma aposta.

Uma aposta não prever mas suspeitar que podia ser o fim.

Era uma aposta, uma roleta russa.

Voando sem asas.

As pernas partindo as calças.

O sinal verde para o pedestre.

O sinal vermelho-fratura.

A mochila leve, leve.

A carcaça.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

!

pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando me você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você
pensando em você pensando em você pensando em você

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

do meu tamanho.


Me chateio no impossível.
Na falsa saudade do seu cheiro
Que desfaz em mim.
Incógnita, olhar desmedido sem causa
Se eu disser que te amo você foge?
Não te amo não, meu amor.
Não sei.
Mas é no instante descalabro que me espanto
É do tamanho de mim o meu desejo
De sempre e nunca mais tão longe, nunca
Aperto lembranças tuas junto ao peito
Digo em silêncio, balbucio
Querer-te assim
Dói
Como as begônias as tarântulas as promessas
Todas
Palavras soltas
Jazz.

domingo, 13 de setembro de 2009

Tá falando comigo?


Falsas promessas que fiz e faço.

Quarto aberto, cama sem coberta.

Eu não fiz por mal.

Eu tenho saudade de você

que pode ser vocÊ ou pode ser só eu.

Não afago. Não afeto. Não forço a barra.

To cansado de palavras feito meias,

quentinhas e sem cheiro.

Eu ando de chinelo e mal humor.

Eu quero água.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

de amor e tesouras


Cortava os cabelos todos os dias.
Não porque havia uma necessidade concreta de cortar os cabelos. Também não se tratava de um vício ou uma patologia (pobres cabelos!), nem sequer de uma obsessão. Os cabelos sempre estiveram devidamente arrumados e interessantes, mais do que deveriam.
Cortava os cabelos por causa dele.
Todos os dias acordava, lavava a cabeça, secava fio por fio com a toalha e escorria o dedo pela penugem toda, atrás de algum local que pudesse ser removido. Qualquer coisa serviria: uma imperfeição, uma ponta dupla, um cacho desfeito, uma idéia sem lugar. E assim, com a imperfeição concreta no peito, ia direto ao salão de beleza, se deparava com ele e pedia pros fios serem aparados.
Ele ria inteiro, todos os dias assim. Não se demorava, sempre pontual ele, o grande cabelereiro, e na fatia precisa do Tempo cortava o fio dissidente ou imaginário, justificando sempre a necessidade do cuidado com o couro cabeludo e assumindo a postura de um profissional legítimo.
Ela saía satisfeita e quase magoada de tão satisfeita. Passava o resto do dia preocupada com a possibilidade dos fios acordarem perfeitos no dia seguinte.
Nunca acordaram. E assim, por anos e anos, a rotina era a mesma: acordar, lavar a cabeça, secar com a toalha, escorrer o dedo pela penugem e identificar a falha. Ir até ele. Resolver o problema. Voltar pra casa satisfeita. Preocupar-se com o dia seguinte.
Cortava os cabelos todos os dias. Sabia que essa era a maior demonstração de amor possível ao longo dos tempos. Entregava a cabeça para ele e ele, por sua vez, cortava os excessos.
Tanto tempo se passou que os cabelos foram pouco a pouco se acabando. Até que um dia, o impensável: acordou careca.
Foi um momento tristíssimo da vida. O afeto havia se esgotado na sua completude. Não haviam mais cabelos, nem cabeças, nem encontros. Não haviam imperfeições. Portanto, não havia amor.
Preocupada com o futuro do seu romance resolveu adquirir perucas. Perucas francesas, persas, italianas, caríssimas. O must do must da cabelereira universal. Estilo paixão hollywood.
Logo depois das novas aquisições, resolveu retomar sua rotina. Não conseguiu. A cabeleira hollywoodiana não tinha falhas. Não se encontrou mais com ele. O maior amor do mundo havia terminado pela preocupação com excessos. Fim.
Sonha com ele todas as noites. Nos sonhos, o balançar perfeito de longos cachos dourados. Ele, com as mãos cobertas de tesouras de ouro, ri inteiro.

E ali mesmo amam-se únicos.

domingo, 9 de agosto de 2009

oração aos tempos


tempo tempo tempo tempo
vou te fazer um pedido
tempo tempo tempo tempo
compositor de destinos
tempo tempo tempo tempos
um brinde ao frio na barriga sem motivo.

domingo, 2 de agosto de 2009

tempo de estio


Domingo em terra carioca é sem melancolia.
Crianças e velhos dividem sem vergonha o mesmo guarda sol.
Amanhece verão, anoitece dia, os pés queimam leves.
A praça inteira de gente, a praça inteira de gente.
Não tem sentido minhas divagações.
Beira mar é sem mistério e está muito cedo.
Eu vou tomar um mate.
Eu vou tomar um sol.
A praça inteira de gente, a praça inteira de gente.
Me apaixonei cinco vezes nesta manhã.
Ipanema fica logo ali, meu coração Copacabana.
É tão difícil, tão fácil, tão simples.
Alcanço sem pressa a alegria das andorinhas.
Minha alma canta.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

E lá vamos nós




O coelhinho fez:

Hihi!

Hoho!

Hahá!

E puxou a corda.

Lá fui eu rio abaixo.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

amor próprio


Vezenquando o mar haveria de perguntar pra ela: “Estaria apaixonada, a menina?” E ela, num silêncio tímido e gasto, os pés inundados, não tardaria em responder: “Sim. Desde sempre.” E seria neste mesmo momento que as palavras conduziriam os pés à travessia. Palavras escoadas pela água, a menina atravessaria. Olhos fechados, um espelho e uma gaiola nos braços.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Keaton e as férias


Meu apartamento foi invadido por esses dias.

Derramei minhas férias no tapete da sala e

enxarquei a toalha da mesa com um cansaço da melhor safra.

Minha barba aguarda a decolagem.

Buster tão triste na fotografia espera um cantinho na porta do banheiro.

Molduras. Miniaturas. Poeirinhas cósmicas. Condomínio.

Cadeiras estranhas, estranhos compromissos, minha voz

num desenho animado.

Eu desanimado.

Fim de feira.

Não consigo passagem pra São Paulo.

Espalmo o tempo.

E essa angústia toda.

Uma molécula disse sim a outra molécula,

essas coisas.

domingo, 12 de julho de 2009

exatamente.


é de manhã e eu acabo de acordar e eu vou ter que te dizer que acordei pensando em você. na verdade eu dormi pensando em você. na verdade eu não dormi. na verdade desde antes de ontem eu sabia da ansiedade que viria muito antes de vir quando soube que a gente se veria outra vez. na verdade eu sabia que seria exatamente assim que seria quando a gente se visse outra vez. exatamente assim exatamente outra vez. outra vez tudo retorna e mexe e muda e transforma e eu sei exatamente como você se sente e você sabe exatamente como me sinto também. exatamente como a gente se sente exatamente assim, todo mundo nota. ela também nota. peço desculpas por isso. desculpe pela inconveniência. mas é que tudo retorna e mexe e muda e transforma e eu também percebo como isso te incomoda. incomoda. não é nada agradável retornar ao apartamento e ter de volta tudo outra vez, a lembrança, o abraço, o consolo, os olhinhos. a gente bem sabe o que a gente tem. a gente bem sabe. a gente bem sabe que alguma coisa indeterminada ficou parada no tempo exatamente naquela vez em que você falou que tinha medo de magoar meus sapatinhos. você nunca magoou meus sapatinhos nem nada. você nunca magoou. nem mesmo quando foi sincero comigo com ela com elas nem mesmo quando te ver com ela não foi exatamente agradável mas também não foi assim algo terrível. simplesmente não foi algo terrível simplesmente nunca foi terrível e é exatamente assim: único. eu sei que isso tudo que a gente tem é único, a gente bem sabe que isso tudo que a gente tem é incondicional à terceiros. ninguém, ninguém há de mudar. ninguém ninguém vai me segurar ninguém há de me fechar as portas do coração, não. ......... todo mundo nota tudo, não importa. a gente bem sabe o que a gente tem. você percebe, você não liga. não importa. eu vou voltar pra casa, amanhã é segunda-feira, o dia vai raiar e a gente vai ser bem feliz. a semana começa e a gente se esquece, okay, tudo bem, não importa. você percebe, você não liga. e eu não vou ligar, nem os escanfandristas, não se afobe não.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

para os que somem.


Você é um homem ou uma mulher e se relaciona. Ponto. Isso seria o início.
Você, homem ou mulher, se relaciona com um homem ou com uma mulher que acaba de conhecer. A relação se dá aos poucos. Ou pelo menos você gostaria que fosse assim, realmente aos poucos. No entanto, o homem ou a mulher com quem você se relaciona começa a traçar retas angulares que te envolvem cada dia mais, mesmo que você resista. Você, homem ou mulher, não tinha planos de se envolver. No entanto, o homem ou a mulher com quem você se relaciona não mede esforços para que o envolvimento natural aconteça e, antes mesmo de se dar conta, você já se encontra absolutamente envolvido(a). Acontece que estão ambos envolvidos: homem ou mulher e homem ou mulher e, de repente, o homem ou mulher que te envolve resolve desaparecer. Assim, como quem esquece uma caneta na lanchonete ou o número de telefone do dentista (ou seria da dentista?), o homem ou a mulher com quem você se relaciona te esquece. Esquece que se relacionou, que te envolveu, esquece até mesmo se você se tratava de um homem ou de uma mulher. Desaparece. Você não espera, se desespera. Você, homem ou mulher, sempre soube que essa estória de sumir não é de bom tom. Ainda mais quando se trata de um homem ou de uma mulher que não economizou nem um pouquinho em deixar você, homem ou mulher caidinho(a) por ele(a). Você, homem ou mulher, não queria se envolver. Ele(a), homem ou mulher, parecia querer se entregar rapidamente às paixões. Ele(a), homem ou mulher, como quem comete um crime, arranja tudo para o golpe final, o desaparecimento pós-conquista. Você, homem ou mulher, já não pode fazer mais nada. Não há como encontrá-lo(a). E mesmo que encontrasse, não seria de bom tom chamá-lo(a) para uma conversa séria: "Meu querido(a), por que não mandaste uma carta? Um sinal de fumaça, uma lembrança? Por que não disseste simplesmente que desejavas partir?". Seria inútil, um homem ou uma mulher que costuma sumir jamais se submete às explicações ou perguntas diretas. Você, no entanto, homem ou mulher, gosta das coisas diretas. Claras. Límpidas. Assim, como se identifica um homem uma mulher. Sem dúvidas. Ele(a), homem ou mulher, faz campanha para a obscuridade. Você não espera mais, não se desespera mais. Depois de tudo, você, homem ou mulher, de coração apertado, vai se sentar ao lado da janela, colocar as mãos sobre o rosto, se derramar em lágrimas de crocodilo, esquecer o que passou e começar tudo outra vez. Ponto. Isso seria o início.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

neurótico x nervosa


você é realmente muito bobo. muito muito muito bobo. fica nessa o tempo todo, nessa de pensar pra onde vai de onde vem pra onde vamos eternamente no meio do um turbilhão de devaneios consecutivos. um turbilhão de devaneios que te levam pra lugar nenhum, ou levam, talvez pra bahia, talvez pro rio, talvez pra praça sete, talvez pra madagascar, talvez pra paris, talvez prum teatro, talvez prum cinema, talvez pro balaio do gato, talvez pra dentro do quarto - mas o coração intacto. você é realmente muito bobo. o olhar não mente, tampouco os abraços, os beijos, as palavras miúdas, o silêncio espesso que diz tanto de tão gasto. no entanto vem o medo vem o medo vem o medo vem o medo de ver que ainda pode ir bem mais, tão bem mais, e você se desespera, não espera, atende o medo numa obediência repugnante. passa um dia, passam dois, você liga, desliga, joga o telefone, joga as flores, as músicas, o sorriso, o afeto, o peito aberto, tudo derrama pra fora, vai embora. primavera pela janela. de volta ao mundo das superfícies.
.
.
.

você é muito bobo, economizando vida.

eu sou muito boba, fico quieta.

domingo, 17 de maio de 2009

Bélgica


Ela espera.

Ele espera.

Ela finge que não espera.

Ele sabe que ela finge que não espera.

Ela sabe que ele sabe que ela finge que não espera.

Ele não diz nada.

Ela não diz nada.

Ele não sabe de nada.

Ela sabe que ele não sabe de nada.

Ele desespera.

Ela guarda os cigarros entre os dedos.

Ele fuma o último cigarro entre os dedos.

Ela esbarra os pés no pé da mesa.

Ele esbarra os pés nos pés dela debaixo da mesa.

Ela beija.

Ele beija.

Ela beija o peito e a nuca.

Ele beija as coxas e a virilha.

Ela franze a testa.

Ele abre um sorriso.

Ela pensa.

Ele sabe que ela pensa.

Ela não diz o que pensa.

Ele não diz o que acha que ela pensa.

Ela dispensa.

Ele diz em que pensa?


Se olham sem saber

Mas sabem.


Ele diz que está na Bélgica.

Ela brinca que ele está na Bélgica.

Ele queria era estar dentro dela.

Ela também.


sexta-feira, 15 de maio de 2009

para o não mais abismo


pois afaste de mim esse amor abismo que faz lançar até perder os pés. não desejo o envolvimento árduo que anula, rasga, corrói na turbulência dos dias e das angústias e das esperas. que a palavra amor não carregue uma ruína, e sim, um pássaro. querer, viver, respirar paixão com a leveza de um vôo. não irei mergulhar no nada outra vez.

traga-me beijos e abraços nas asas de uma andorinha.

terça-feira, 12 de maio de 2009

trim


ok, ok, ok, então vai ser assim. então a gente se vê hoje, e só e apenas hoje, e fica junto, e se beija, e se abraça, e faz sexo, e acorda e dorme, que tal alugar um filme? ótima idéia, ótimo filme, sobre o que era o filme mesmo? então tá, então a gente se fala depois, é, a gente se fala, a gente se liga e coisa e tal. eu queria muito muito muito muito te ligar agora nesse instante e dizer que eu estou louca louca querendo te encontrar mas não, não seria prudente, não, não, não, a sociedade não permite, vou sumir durante dois dias consecutivos. sigo os conselhos das amigas bonitas e prudentes e é isso mesmo que vou fazer. então é isso, então você some junto e cada vez que o telefone toca sinto que pode ser quem sabe a esperança é a última que morre, é você???morro em cada instante de tanta espera e tanta angústia de espera e escuto dizer "estou apaixonada, pois espero. o outro que espero não espera jamais." acho que escutei isso no rádio, não lembro bem quem foi, quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho? eu vou escutar um pouco de caetano, abrir as janelas do meu automóvel e sair por aí. não espero por nada nem por ninguém. vivo intensamente cada instante, vivo só. eu perco a chave de casa, eu perco o freio. vou arrumar os armários do quarto, ler um livro da clarice, preparar os ensaios de amanhã, comer aquele arrozinho integral na geladeira, já me disseram que meu maior defeito é ser ansiosa demais e por isso ter uma mania terrível de atropelar as coisas, olha, eu não quero mesmo atropelar as coisas, eu juro que vou respirar fundo e ficar quietinha e esperar o momento certo da gente se falar outra vez e sim, tem realmente muito pouco tempo, como foi mesmo que você surgiu?.......................não, não, não, obrigada, não quero comer mais, adoraria tomar um vinho, você já viu aquele filme do godard? é lindo, é realmente lindo, não, eu tô falando do filme! é, não só do filme, que graça!! que coisa. que saudade. ops, não, eu não disse isso, a ligação está ruim, o quê? o quê? é! eu estou te ligando desse telefone estranho porque a minha bateria acabou, a bateria! a bateria! e sim, estou muito ocupada para encontrar com você agora, me ligue amanhã, talvez eu te atenda no terceiro toque, insista, mande uma mensagem pelo céu, espero por você ansiosamente na porta do teatro. agora, agora, agora. psiu.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

tentativa de


nosso amor não deu certo
todo mundo sabia
do tamanho de tudo
o seu susto, o meu medo
todo mundo esperava
ela ia, ela vinha
são paulo, minas, paris, budapeste
japão, tiradentes, tijuca, aqui
sua casa, a minha, seu medo, meu susto
todo mundo escutava
todo mundo sentia
nosso amor de domingo acabou-se em segundos.

nosso amor não vivido
o silêncio de tantos
onde está a menina? onde estão os sapatos?
me perdi na estória que continha você
cachoeira, piscina, coberta, sofá
melodia, mentira, samba, jazz
todo mundo dizia
todo mundo mentia
ela vinha, ela ia
em pequenos tormentos
macarrão, alegria, batida, pausa
todo mundo sonhava
todo mundo pedia
nosso amor não deu certo
gargalhada sem lágrima.

terça-feira, 10 de março de 2009

sem flores



Voltamos então à estaca zero. Ao silêncio. Você, ao antes dela, de nós, todos juntos nessa letra do alfabeto circunscrita que quase desejou se pronunciar de forma idêntica. Jamais. Eu, ao antes de tudo, que também é notável de ser um depois - sei que jamais voltarei à estaca zero outra vez.
Assusta-me o fato de estares sozinho. Ao mesmo tempo: não. Tua carne sempre foi fraca, tua solidão escrita. As palavras pronunciadas nunca chegaram ao seu verdadeiro destino.
Peço que se cale, já. Não quero que apareças, não quero que me perturbe com sua imagem que insiste em aparecer nos dias em que quase te esqueço. Sei que já não lembro mais o que foste, mas a lembrança do que eu tanto desejei que você seria me atormenta. Peço que se cale, já.
Não te desejo flores nem dias de sol nem alegrias aos domingos. E quero que saibas também que já não me resta amargura - apenas não posso fazer parte da impostura de te querer bem.
Não quero seu olhar lançado como se lamentasse o fato de tudo isso ter sido assim. Sinto-me inteira, apesar. Forte. E a lançar seu nome num despejo mudo.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ah, Você vai ver...

Screenshot do curta "O homem do meio" de César Mendonça onde atuei. confira: http://br.youtube.com/watch?v=XgNVei7OUxk

Ninguém irá me encontrar nem conversar comigo porque eu não quero encontrar com ninguém. O download está concluído. Não me casarei com você sua vaca nem que a vaca diga vá pra casa do carmalohsvidentessobreumanovaperspectiva.
É claro que tudo isso é invenção barata, nada como se afundar em inseticida, nada como namorar na casa da namorada mesmo que doa ter que comê-las às vezes escondido do pai, da mãe, da empregada. Nada, nada faz o menor sentido por isso vou embora pra Parságada. Lá meu amigo é o Reis. E fora toda essa coisa mofada que é e já foi escrever e querer ser publicado eu quero deixar bem claro neste momento perante o público aqui ausente que todas as minhas forças de conseguir sobreviver nessa cidade foram em vão porque aqui nessa cidade não há vão só as paredes lacradas feito as portas escancaradas do meu coração, do lance genial debaixo da escada. Você deve tá pensando nesse momento, não há coisa mais piegas, mais boquinha, babaquinha do que deixar os pedaços dos seus braços abraçados contra o peito de um cadáver perfumado de roupas limpas e pouca idade. Cheio de maldade e um par de coxas de matar a mãe. Um babaca bom de fuder de manhã, de se cagar de vontade de fuder, fazer amor, vontade de se gastar e se estragar de saudade. Eu só queria dizer baby que eu não vou deixar nada bem claro. Vou deixar tudo no estudo, no esboço, na boneca. Tudo. Tudo é meio sem motivo, na metade, mais ou menos, por e-mail, por vontade, por destreza. Eu admito: Eu me demito. Quem bom, que bom... O dia amanheceu safado.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

onde?



e a pergunta vinha e vinha: onde estará o amor? aquele que surge distinto, cor de xadrez, cor de neón? aquele que se lança em maiúsculo, como um salto? aquele que não se antecipa, mas quando chega, já estava? desde sempre, onde andará? em que bar, em que cinema? em que esquina perdida? estará com as meninas das janelas? na telefônica, na máquina de costura? no ponto de ônibus, na padaria, na rua da amargura? ao lado da família, no bolso do tio gordo, na foto antiga? em qual gaveta, em qual poesia? onde andará? em que acaso, em que descaso? em que papel, em qual revista, em qual promessa, em qual lembrança? na xícara cor-de-rosa, na varanda, no sobrado, na lagoa? em qual rosa, em qual sorvete? em que silêncio, em que mentira? onde andará? em qual tarde vazia?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ela sonha como quem vai ao cinema

screenshot de erika verzutti do filme "O cinema Falado" de Caetano Veloso. visite o blog dela: www./tamanha.blogspot.com
Era dada a sonhos. Sonhos dos mais variados, as mais tenras histórias, os mais loucos casos, um luxo de cor e sono dado de presente pra ela que, esperta, dividia o doce com a gente.Era de esperar que um dia algum desses sonhos se torna-se real, ou palpável, ou sentido.Não falo em loteria, não faz o menor sentido. Eu falo é de tocar o ar com os olhos e presentir sem prever, preparar sem permanecer parado esperando.
O sonho ficou na cabeceira da cama enquanto o fato ficou de pé, nú, perto da janela. Eu fui o mais esperto, ganhei o doce primeiro porque primeiro eu estava lá no sonho mas não estava lá no fato.
Achei chato chamar o sonho vivido de fato.Achei chato mesmo ter estado no sonho que só sei que estava porque ela me disse um dia: -"Olha, tive um sonho e você estava nele...piriri...pororó..." e não poder ver, sentir, estar diante do sonho feito fato. De fato faz todo o sentido eu estava em Minas e o sonho feito fato no morro da paciência.

Ah, o sonho?

Deixa pra lá.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

amor impossível


aos que zombam e entortam os olhos diante do que seria impossível.
justamente por ser impossível, pois. Amor.