sexta-feira, 31 de julho de 2009

E lá vamos nós




O coelhinho fez:

Hihi!

Hoho!

Hahá!

E puxou a corda.

Lá fui eu rio abaixo.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

amor próprio


Vezenquando o mar haveria de perguntar pra ela: “Estaria apaixonada, a menina?” E ela, num silêncio tímido e gasto, os pés inundados, não tardaria em responder: “Sim. Desde sempre.” E seria neste mesmo momento que as palavras conduziriam os pés à travessia. Palavras escoadas pela água, a menina atravessaria. Olhos fechados, um espelho e uma gaiola nos braços.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Keaton e as férias


Meu apartamento foi invadido por esses dias.

Derramei minhas férias no tapete da sala e

enxarquei a toalha da mesa com um cansaço da melhor safra.

Minha barba aguarda a decolagem.

Buster tão triste na fotografia espera um cantinho na porta do banheiro.

Molduras. Miniaturas. Poeirinhas cósmicas. Condomínio.

Cadeiras estranhas, estranhos compromissos, minha voz

num desenho animado.

Eu desanimado.

Fim de feira.

Não consigo passagem pra São Paulo.

Espalmo o tempo.

E essa angústia toda.

Uma molécula disse sim a outra molécula,

essas coisas.

domingo, 12 de julho de 2009

exatamente.


é de manhã e eu acabo de acordar e eu vou ter que te dizer que acordei pensando em você. na verdade eu dormi pensando em você. na verdade eu não dormi. na verdade desde antes de ontem eu sabia da ansiedade que viria muito antes de vir quando soube que a gente se veria outra vez. na verdade eu sabia que seria exatamente assim que seria quando a gente se visse outra vez. exatamente assim exatamente outra vez. outra vez tudo retorna e mexe e muda e transforma e eu sei exatamente como você se sente e você sabe exatamente como me sinto também. exatamente como a gente se sente exatamente assim, todo mundo nota. ela também nota. peço desculpas por isso. desculpe pela inconveniência. mas é que tudo retorna e mexe e muda e transforma e eu também percebo como isso te incomoda. incomoda. não é nada agradável retornar ao apartamento e ter de volta tudo outra vez, a lembrança, o abraço, o consolo, os olhinhos. a gente bem sabe o que a gente tem. a gente bem sabe. a gente bem sabe que alguma coisa indeterminada ficou parada no tempo exatamente naquela vez em que você falou que tinha medo de magoar meus sapatinhos. você nunca magoou meus sapatinhos nem nada. você nunca magoou. nem mesmo quando foi sincero comigo com ela com elas nem mesmo quando te ver com ela não foi exatamente agradável mas também não foi assim algo terrível. simplesmente não foi algo terrível simplesmente nunca foi terrível e é exatamente assim: único. eu sei que isso tudo que a gente tem é único, a gente bem sabe que isso tudo que a gente tem é incondicional à terceiros. ninguém, ninguém há de mudar. ninguém ninguém vai me segurar ninguém há de me fechar as portas do coração, não. ......... todo mundo nota tudo, não importa. a gente bem sabe o que a gente tem. você percebe, você não liga. não importa. eu vou voltar pra casa, amanhã é segunda-feira, o dia vai raiar e a gente vai ser bem feliz. a semana começa e a gente se esquece, okay, tudo bem, não importa. você percebe, você não liga. e eu não vou ligar, nem os escanfandristas, não se afobe não.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

para os que somem.


Você é um homem ou uma mulher e se relaciona. Ponto. Isso seria o início.
Você, homem ou mulher, se relaciona com um homem ou com uma mulher que acaba de conhecer. A relação se dá aos poucos. Ou pelo menos você gostaria que fosse assim, realmente aos poucos. No entanto, o homem ou a mulher com quem você se relaciona começa a traçar retas angulares que te envolvem cada dia mais, mesmo que você resista. Você, homem ou mulher, não tinha planos de se envolver. No entanto, o homem ou a mulher com quem você se relaciona não mede esforços para que o envolvimento natural aconteça e, antes mesmo de se dar conta, você já se encontra absolutamente envolvido(a). Acontece que estão ambos envolvidos: homem ou mulher e homem ou mulher e, de repente, o homem ou mulher que te envolve resolve desaparecer. Assim, como quem esquece uma caneta na lanchonete ou o número de telefone do dentista (ou seria da dentista?), o homem ou a mulher com quem você se relaciona te esquece. Esquece que se relacionou, que te envolveu, esquece até mesmo se você se tratava de um homem ou de uma mulher. Desaparece. Você não espera, se desespera. Você, homem ou mulher, sempre soube que essa estória de sumir não é de bom tom. Ainda mais quando se trata de um homem ou de uma mulher que não economizou nem um pouquinho em deixar você, homem ou mulher caidinho(a) por ele(a). Você, homem ou mulher, não queria se envolver. Ele(a), homem ou mulher, parecia querer se entregar rapidamente às paixões. Ele(a), homem ou mulher, como quem comete um crime, arranja tudo para o golpe final, o desaparecimento pós-conquista. Você, homem ou mulher, já não pode fazer mais nada. Não há como encontrá-lo(a). E mesmo que encontrasse, não seria de bom tom chamá-lo(a) para uma conversa séria: "Meu querido(a), por que não mandaste uma carta? Um sinal de fumaça, uma lembrança? Por que não disseste simplesmente que desejavas partir?". Seria inútil, um homem ou uma mulher que costuma sumir jamais se submete às explicações ou perguntas diretas. Você, no entanto, homem ou mulher, gosta das coisas diretas. Claras. Límpidas. Assim, como se identifica um homem uma mulher. Sem dúvidas. Ele(a), homem ou mulher, faz campanha para a obscuridade. Você não espera mais, não se desespera mais. Depois de tudo, você, homem ou mulher, de coração apertado, vai se sentar ao lado da janela, colocar as mãos sobre o rosto, se derramar em lágrimas de crocodilo, esquecer o que passou e começar tudo outra vez. Ponto. Isso seria o início.