sábado, 26 de novembro de 2011

cuide-se


era uma vez um casal cheio de cuidados.  cuidaram-se tanto que não se conheceram.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

sem posses


meu amor por você não tem desejo de posse. depois de um longo respiro, posso voltar a escrever. é estranho ver, tamanho desejo aceitando a grandeza do mundo. não quero amarrar você nos meus pulsos. não quero despermitir. a nossa estória foi feita de vôos. despedidas. fins. meios de. aceitar o difícil, desde o início, já era isso. fazer o peso ser leve. sorrir, apesar de tudo. sorrir sempre. pode doer, mas não se esqueça de abrir a janela. continuo na porta de casa. não sei por quanto tempo. não importa. mesmo. enquanto houver desejo, olharei pra sua janela. e, de tempos em tempos, vou ver o mar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

coração

tô feliz de você existir assim: leve, perto, bom. um passo de cada vez. junto.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

pega a melodia e engole


engraçado: o coração devia doer. melhor: deveria sangrar. depois de tanta crueza, de tanto murro em ponta de faca, tudo deveria desmoronar. não mais: deveria quebrar. pra quê? não sei. pra onde? pra lá. engraçado: as coisas deveriam ser mais difíceis. melhor: deveriam ser tristes. depois de tanta maldade, de tanta saudade gasta em vão, tudo deveria explodir. não mais: deveria cair. por quê? sei lá. por quem? por ti. engraçado: deveria demorar mais pra chover. melhor: deveria parar. depois de tanto cansaço, de tanto grito oco no ar, tudo deveria morrer. não mais: deveria sumir. pois não? cansei. pra mim? passou.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

a vida pode ser uma festa


foi você quem me perdeu e não vou cansar de repetir isso. a sua nova namorada pode ser um monte de coisas, mas ela não faz você morrer de rir. ela não faz você morrer de nada. ela faz você viver pacato e sereno, comum, quase cinza de tanta calmaria. e eu não quero saber de calmarias! 
a sua nova namorada pode ser a sua nova segurança, a que você buscava, a que você queria. ela pode ser bonita e até mesmo muito bondosa. mas quando você pensa nela, o seu coração não balança. ela te traz segurança. mas ela não samba.
foi você quem me perdeu e quem ganhou fui eu. a vida pode ser mais saborosa. não com o sabor dessa alegria gratuita, como a que a sua nova namorada prega. não é pra sorrir em vão. vale a pena chorar pelas coisas tristes. vale a pena chorar, sabia?
o meu travesseiro pode ser mais quente que o seu abraço. uma palavra pode ser mais confortante que a sua companhia. a vida pode ser uma festa, celebrada com confete e serpentina, como quem celebra o mundo.
e o mundo é grande.
sabia?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

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o coração ficou seco.
as palavras também.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

da mesma fonte

então eu vou deixar que você escorregue pelos meus dedos devagarinho, como água que escorre da mesma fonte e transborda. vou deixar que você solte as minhas mãos e saia caminhando leve pela chuva, deixando que a água, o mar, tudo exista em silêncio, em penumbra, em vastidão. vou deixar de apertar seus braços e soltá-los com cuidado, e então virar de costas, fechar os olhos, respirar fundo e permitir que você seja guiado pelos próprios passos, pelo próprio coração. vou deixar você ser esquecido e ser somente habitante de lembranças minhas, promessas desmedidas de um amor maior. vou observar você de longe enquanto mergulha no mar sozinho, enquanto molha os cabelos e promete coisas pra si e nada mais. vou deixar você se afundar em palavras ocas, em outros olhos, outros mares e que você se lembre de mim com ternura, como se fosse verão, como se fosse verdade, como se fosse alguma coisa um pouco mais que isso tudo que. vou fazer com que a gente exista de longe, como duas coisas que justamente por serem tão longes não foram capazes de existir. não vou chorar, prometo. não vou chorar mesmo.

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solto suas mãos para que você mergulhe em outros ares e que eu seja capaz de em outros mares navegar. 

domingo, 17 de abril de 2011

como quem partiu ou morreu



Minha solidão conhece a sua. Ninguém até hoje te compreendeu mais do que eu e você sabe. Ninguém até hoje me compreendeu menos do que você. Você sabe? Parece que agora, depois do sim, depois do não, volto ao ponto inicial. Retorno ao começo dos começos, ouço as mesmas músicas, visto as mesmas roupas, saio com os mesmos amigos. Nada aconteceu. É como se você fizesse parte de uma invenção minha, de algum delírio pessoal. A gente realmente esteve juntos alguma vez? De agora em diante elaboro projetos, crio canções, ensaio cartografias afetivas, declaro lemas mentirosos pros outros. Meu corpo está cansado de tanto girar. Meu coração está partido. Temo que meu coração tenha se partido pra sempre. Temo também que você tenha deixado em meu peito um terreno devastado, antigo, impenetrável, como você está e há tanto tempo vive. Você vive? Você vive. E como vive. E você existe. Você existe? Não sei se você existe. Não saber se você existe é o que mais me dói. E me atormenta, e me consome, e me esvazia. Diariamente, sem fim, já chega. Quero esquecer, não posso esquecer, devia esquecer. Crio explicações bobas pra entender o seu silêncio. E não explico, e não enxergo, e não entendo. Posso entender, não quero entender, devia entender. Em que lugar você se encontra agora? Com quem? Por quem? Com qual delas?

...

Pretendo seguir como quem perdeu um ente querido e chora todas as noites por sua morte, no profundo silêncio. Mas de manhã cedo, quando o sol levanta, não se esquece nunca de olhar pro céu. 

domingo, 27 de março de 2011

isso tudo


e isso de ter que tolerar o silêncio, o meu silêncio, o seu, enquanto o mundo lá fora caminha e gira. e isso de ter que seguir sem querer virar página, e não ter que virar, e esse desejo quase sem limite de insistir. e isso de desejar o que sempre pensei que não desejaria, e de lamentar que o que desejo muitas vezes não é real. e isso de te querer quase sem pensar, quase sem razão, como numa dança inesgotável, desesperada, urgente. e isso de ficar atormentando a pobre da memória com culpas, procurando uma chave, um indício, qualquer pista que me indique um erro, o meu erro, o seu, o nosso. e isso de sentir raiva mesmo sem sentir, e isso de ter ciúme dela, da outra ela, da mais bela, de todas elas. e isso de não entender de mim, de não entender que lugar foi esse que eu ocupei, que eu ocupo pra você. e isso de confundir o real com o possível, a vontade com o desejo, o amor com a amizade. e isso de tentar entender o que foi e o que não foi, e de culpar os astros, o tempo, a distância, o medo, a sua conduta, o meu exagero. e isso de evitar o nosso fracasso. e isso de querer cantar toda e qualquer canção em uníssono, de transformar meus últimos dias em lamento, de inventar pretexto pra te ver, de pensar em você de manhã, de tarde e de noite, e também de madrugada e de procurar seu corpo em outros abraços, em outros braços, em outras palavras. e isso de relacionar tudo e tanto à sua presença, de querer te telefonar o tempo todo, de querer conversar e não ter ninguém que me escute, de dormir sozinha, com lágrimas nos olhos. e isso de não querer desacreditar, de não aceitar que tudo se esvaiu, de impedir que a gente seja como os outros, de que a gente seja como todo mundo, de que a gente seja comum, de que a gente também seja possível de acabar.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Fica


Fica tranquila.
O amor é maior que o amado.
Tudo não se encaixa.
Não dá pra guarda o sonho.
Ele é maior que a caixa
é melhor que a faixa 3 do disco dos Doces Bárbaros.
Melhor que o Rio de Janeiro.
Melhor que esse dia inteiro de angústia trancada dentro de casa.
Segura na minha mão.
A gente canta e faz show sozinhos
Rindo com nossos cabelos,
as pontas dos nossos dedos
apontando sempre além.
Estamos além.

quinta-feira, 3 de março de 2011

querer



queria que me enviasse flores, como também me telefonasse de madrugada pra dizer qualquer coisa. queria que me contasse uma estória bonita, ou uma estória feia, podendo decidir você, sem pressões, o que pode ser considerado uma estória e o que pode não ser. queria que tivesse sensibilidade pra entender as palavras e tratá-las com delicadeza (não pra decifrá-las). queria que tivesse cuidado, o cuidado de quem agarra nas mãos um instante ínfimo, um desejo-fulgor, uma espera. queria que tivesse menos medo, menos peso, e que pudesse andar pelos dias como numa sinfonia de carnaval, leve, gasto, de braços abertos pro que der e vier. queria sua mão junto à minha, não prometendo o eterno, mas dando conforto, como quem diz sem precisar gastar a voz: "agora, exatamente agora, eu estou aqui."

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

pra virar canção, pra virar samba



Se a gente inventar um novo jeito de gostar, não sou eu quem vai dizer adeus
Cada despedida é um lamento
Tanto pra guardar
Qualquer pedaço, eu tô querendo
Qualquer acordo pra não te deixar.


Se a gente vai inventar um novo jeito de gostar, não sou eu quem vai dizer adeus
Cada despedida é um lamento
Se eu não quero andar
Qualquer contrato, eu tô revendo
Qualquer maneira de você ficar aqui


Se eu pudesse transformar o que você sente por mim
Se eu pudesse refazer o que foi erro, consertar o que não vejo, eu faria, eu diria, qualquer coisa, todo dia, eu faria


Se a gente vai encontrar um novo jeito de gostar, não sou eu quem vai dizer adeus
Toda despedida é um lamento.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

pérolas ao deus dará

te amo de manhã de tarde de dia. te amo de madrugada. te amo no despertar da noite, no infinito silêncio. te amo na hora em que não devo, na noite sozinha, diante da janela. te amo na dança que danço com outro, com outros, no copo de cachaça, no exercício, no fôlego, no medo, no peito que aperta, o tempo inteiro. te amo de olhos fechados, de olhos abertos, com medo, com sono. te amo preenchendo o fiozinho que nos distancia, e como distancia. te amo na sua ausência, no meu silêncio, no medo de te perder, a cada instante. te amo na hora em que você telefona pra ela, na hora em que você não me telefona, te amo na conversa atravessada, na preguiça, no telegrama que você não respondeu, no seu erro de português. te amo na saúde, na doença, na dor de cabeça, no susto, no sonho, sobretudo no sonho. te amo nas conversas ensaiadas durante o banho, te amo nos dias tristes, sobretudo nos dias alegres. te amo sozinha, sem medo, com medo, na melodia já gasta de poesia e música, no improviso, na decisão. te amo na separação. te amo no sim, no não. te amo na sua certeza, na minha certeza, na minha coragem, na sua dureza. 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

despertador

tô esperando você acordar, olhar pro lado e dizer: "encontrei". 

domingo, 9 de janeiro de 2011

meu coração copacabana

o nosso amor vai subir a serra, já ouvimos cantar por aí. virar à direita, à esquerda, avante, afronte, afronta, adiante, ar. sem respiro, sem pausa, sem pressa, sem eira, nem beira, subir a serra e desaguar no mar. recolho saudades a cada dia que passa. cada vez é mais, cada vez maior. e na calma que você vem me ensinando a ter, traço os passos sem receio, na certeza de que o destino lento vai dizer o que virá. o que existe já é, e sustenta,e ergue, e vai. como onda e melodia, o que existe não tem tamanho, nem nome, nem cor. é um projeto casulo, daqueles pra metamorfosear e avoar-se. semente pro futuro, amor antigo, está mais que entendido que isso corre longe, que nem água do rio, que nem cachoeira, que nem todas as águas do mundo, amor-natureza de todas cores a existir desde os tempos imemoriais. plantando vida, deixando ser, crescendo, crescendo, crescendo, crescendo. promessa certeira a brotar-se.