sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

E venta...


Guardou o livro dentro da bolsa.
O mesmo livro que ela também estava lendo.
Cantou sua canção preferida.
A mesma que ela também cantava naquele dia.
Pensou em rever o filme que mais gostava.
O mesmo filme que ela também disse que adorava.
E disse sim sozinho no meio da rua
quando ventou forte dançando as folhas das pitangueiras.
Mesmo que não houvessem pitangueiras naquela cidade, naquele país.
No seu país havia o vento, as pitangueiras e outras palavras
que eram deles.
Eles, ele e ela, Ela.
A palavra Ela dentro do nome dela
e dentro do nome dele um diamante.

Ele esperava encontrá-la na rua e disse isso pra ela.
Ela disse que sempre esteve lá. Com ele.
E de fato estava.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Como será a bandeira do nosso país?


E foi muito estranho e feliz a conversa.
Sem som, sem olhos, sem sinal de mais tarde nunca mais.

Espera, escreve, pensa, escreve, espera.

A canção, os musicais, cores de bandeiras de países que inventamos,
quadros de medalhas, sonatas e tudo mais.


Espera, escreve, pensa, escreve, espera.

E dançamos usando as palavras, escolhendo cores, aguardando o ouro.
Nadando sem piscina.

Espera, escreve, pensa, escreve, espera.

Tarde de Domingo na ilha de grande Jatte de Seurat
e o verde das nações.

Espero, penso, escrevo, espero, penso e penso...

I'm singing in the rain
Just singin' in the rain...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Por uma vida mais vermelha


Estava naquele tempo em que muitos diriam ser verdadeiramente produtivo. Tempo de boas colheitas, tempo de acontecimentos. Nunca sua agenda de telefone foi tão cheia de possibilidades. Números, tamanhos, endereços, proporções. Colecionava estórias de verão em absoluto torpor. Ou não.
Caminhava pela cidade como quem desbrava o mundo. A brisa escorrendo pelos cabelos, o peito cheio de desejo e pavor. Havia um ano inteiro pela frente, um ano novo, um ano que haveria de ser único.
Não tinha aprendido muito ao longo da vida. Cometia os mesmos erros. Tinha a alma velha, sendo jovem.
Estava no tempo de primavera, atraía olhares de todos os tipos. Estava bonita. Estava muito bonita.
Caminhava pela cidade como quem abraça o avô na cadeira de balanço. Chorava por todas as saudades desse mundo. Carregava amor nos passos.
Os pés passavam do Teatro até à biblioteca. Do mar até ao carnaval. Tinha um mundo inteiro ao redor, mas era só. E não havia escândalo.
Estava naquele tempo de companhias, de abraços e de encontros. Mas era ela mais do que nunca.
Pela primeira vez depois de tantos anos, respirava sozinha.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O dia que abandonei Samantha e o vício


Esvaziar o cinzeiro
Deixar o dia inteiro ser o dia inteiro e anoitecer.

E desaparecer de verdade

com todas as caixas, os maços, os isqueiros,

com toda a beleza da fumaça,

a ressaca,

o mal cheiro e o

Glamour.


Deixo tudo para o cinema Noir.