segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

efêmero


Colecionava amores efêmeros como quem coleciona livros. Assim, os mais raros. Assim, os mais distantes. Amores curtos longos de verão. Amores suados, inundados de palavras ocas, vãs. Amores de onde se enxerga o ponto em que termina. Ainda assim, amores.
Começara cedo, era menina. Sabia desde sempre que o amor se fazia na impossibilidade de sua permanência. E que justamente por isso, amores com prazo de validade conseguiam ser mais potentes. Não se economizava sentimento, não se economizada vida. Era amor devorado como as páginas amarelas lidas em silêncio (em sufoco).
Começara cedo e seguia o rumo sendo assim. Se apaixonava justamente por quem morava longe de casa. Quanto mais longe, mais amo. E começava estando perto, muito perto, e desse tão perto não se fingia nem dispensava. Havia de se viver tudo com a máxima intensidade, era declarado o dia em que tudo terminaria. Vivia vivia vivia, as emoções escancaradas em limpidez. Não havia porque fingir que não.
Como quem coleciona livros roubados, vivia amores das mais diversas localidades. Copacabana, Salvador, Budapeste, Londres, Itapema, Madagascar, Estocolmo, Barreirinhas, São Gotardo, São Gonçalo, São Paulo, São Luís. Km de distância marcavam o tempo justo das coisas. Era sabendo-se distante que se fazia mais sincero. E puro.
Um dia chegaria a data de validade. Dia de devolver o livro na Biblioteca. Dia de comprar a passagem de volta. Pois é claro que se poderia tentar forjar a data do fim. Esconder o livro dentro da blusa, queimar as malas, tampar o rosto. Ainda assim, não haveria remédio. Existia um prazo de validade. Não há amor que sobreviva ao amor.
Voltava pra casa então. Passos lentos emoldurados de lágrimas. Todas as lágrimas do mundo de todas as nacionalidades todas as cores. Voltava pra casa sozinha outra vez.
Colecionava amores efêmeros como quem coleciona livros.
O coração escorria pela boca.
Dizia: sim.

4 comentários:

  1. Poema sem título para o sem amor

    Amor, há amores sim.
    Todos os amores.
    O amor é estado não-coisa amor é pra ser sentido de vezes diferentes por isso vai e volta.
    Não se repete.
    Amor de ter e ser. E de não ter e ser.
    Há amores sim, todos os amores somos amores
    Ter e ser amor, não ter e ser amor, continuemos.

    Amor é pura cisma.

    Vanessa Soares de Paiva, s/d.

    ResponderExcluir
  2. ah, e eu gosto desse filme, com malkovich. o céu que nos protege. maravilhoso e verdadeiro.

    ResponderExcluir
  3. Efemero não é o amor. É a viagem...

    ResponderExcluir
  4. esse filme é demais mesmo.
    que lindo esse texto aí de cima.
    em nome das viagens efêmeras! rs

    ResponderExcluir