quinta-feira, 1 de abril de 2010

A palavra escrita


Desapareceu como se nunca tivesse existido
sem deixar memória nem vestigios só a sensação
de que esteve mas não estava.
Abandonou a sala desarrumada depois da festa
e deixou um bilhete para o dono da casa:
Espero que compreenda.
E foi incompreensível a precisão da escrita,
a temperatura da linguagem.
O dono da casa esqueceu as palavras e o sentido delas
e ficou olhando pras próprias mãos que doiam e esperou
até a última folha da pitangueira e cantou aquela valsa
que fala das estações e viu aquele filme e viu outro daqueles
filmes e foi embora e foi sorrindo, e chorava e escrevia
aquelas palavras e todas aquelas palavras dentro das palavras
e nos espaços em branco entre as palavras cheios de fios invisíveis
e mato e partículas de saudade e pó.
E não se lembrou mais que alguém ou alguma coisa etérea e transparente
Desapareceu como se nunca tivesse existido
e dormiu sem querer compreender nada.

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