quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Por uma vida mais vermelha


Estava naquele tempo em que muitos diriam ser verdadeiramente produtivo. Tempo de boas colheitas, tempo de acontecimentos. Nunca sua agenda de telefone foi tão cheia de possibilidades. Números, tamanhos, endereços, proporções. Colecionava estórias de verão em absoluto torpor. Ou não.
Caminhava pela cidade como quem desbrava o mundo. A brisa escorrendo pelos cabelos, o peito cheio de desejo e pavor. Havia um ano inteiro pela frente, um ano novo, um ano que haveria de ser único.
Não tinha aprendido muito ao longo da vida. Cometia os mesmos erros. Tinha a alma velha, sendo jovem.
Estava no tempo de primavera, atraía olhares de todos os tipos. Estava bonita. Estava muito bonita.
Caminhava pela cidade como quem abraça o avô na cadeira de balanço. Chorava por todas as saudades desse mundo. Carregava amor nos passos.
Os pés passavam do Teatro até à biblioteca. Do mar até ao carnaval. Tinha um mundo inteiro ao redor, mas era só. E não havia escândalo.
Estava naquele tempo de companhias, de abraços e de encontros. Mas era ela mais do que nunca.
Pela primeira vez depois de tantos anos, respirava sozinha.

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