sábado, 3 de abril de 2010

Não fumo cigarros.


Tinha medo de atravessar a linha proibida.
Aquela linha tênue que separa, no amor, o possível do improvável. Aquela linha que, uma vez atravessada, poderia colocar tudo a perder.
- Quanto posso demonstrar? Quanto posso querer?
Não queria assustar o outro com seus passos apressados outra vez. Sentia desejo como sempre sentia desejo - o desejo pra ela era algo que não poderia ser nada mais nada menos do que grandioso, independente do que fosse. Se desejava, já era intenso. E isso ela sabia que assustava - não ela, que desde nova assumiu ser capaz de correr riscos. Mas o outro. Os tantos outros que passaram por sua vida.
Foram muitos os corações que ela foi capaz de assustar na demonstração do seu desejo.
Não conseguiu nunca fazer o papel da charmosa mulher que, enquanto fuma seu cigarro, lança olhares tortos aos homens durante uma noite esfumaçada. Sempre fora a mulher que tropeçava. A mulher que caía. Que falava alto e ria revelando os dentes. Que derrubava cerveja na blusa branca do flerte no primeiro encontro.
Sem conseguir ser estrela da nouvelle vague, tentava fingir que queria menos que queria - enquanto tentava verificar em si, sempre, se queria tanto quanto gostaria de querer. Tinha uma predileção por grandes encontros, dramas, romances em torpor. Fantasiava com estórias arrebatadoras até mesmo antes delas acontecerem.
De qualquer maneira, o momento era de cuidado. Não queria meter os pés pelas mãos outra vez. Caminhar na corda bamba, ligar menos, balançar os cabelos querendo dizer indiferença. Mesmo sendo aquela que derruba cerveja, deveria fingir, pelo menos por alguns instantes, ser a lady charmosa no canto da noite noir.

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