- Você é sempre responsável por aquilo que conquista.
Foi essa a frase que escutou nos primeiros anos de vida. A menina, ainda criança, ouvia da voz da avó no canto da sala essa afirmação quase assustadora, quase terrível. Como poderia ser ela tão jovem responsável por qualquer tipo de conquista? Como poderia ter certeza do que conquistava e de quem? Mais tarde pode ler algo parecido num livro que todas as mães recomendam aos filhos. Só que ao invés de conquistas, o livro falava sobre cativar. A palavra "cativar" soava mais leve - mais isso não vem ao caso.
O fato é que a menina cresceu um pouco, ganhou dinheiro, peso e alguma experiência. Ainda assim, era menina. Sorria inocente pras coisas, queria o mundo feito criança. Falava de forma empolada mas acreditava em sinais, acontecimentos mágicos e no amor. E conquistava, até aquilo que não pretendia.
"Crescer requer coragem" - foi outra frase que escutou bastante enquanto crescia. A menina ainda estava em fase de crescimento, na fase em que as pessoas parecem bobas e os amigos de verdade vão morar fora. Os pais ficam velhos, frágeis e sair no sábado à noite não parece a melhor das soluções. A menina crescia cheia de medo escorrendo pelas pernas e pelos olhos, mas crescia. Ganhava asas.
No amor, errava. Desejava conquistar corações impossíveis. Passava dias pensando em como tocar um homem quase intocável. Homem esse que tocava as teclas de um piano como quem escolhe flores. Dentre tantas moças da cidade, ele havia escolhido por ela, a maior margarida. Ainda assim, ela não conseguiu conquistá-lo . Ainda (tinha esperanças).
No outro topo do país, conquistou um homem que não pretendia. Assim, no susto, como uma imagem cravada na câmera de fotografar. Ele a desejava inteiramente e a queria como ela sempre desejou ser querida - e isso a assustava. Não se apaixonou pelo único homem que a amava.
Quando pensava na mágoa que poderia causar ao homem conquistado, lembrava da frase da avó e quase sentia culpa. Fechava os olhos rapidamente como quando era criança - naquela época fechar os olhos tinha o poder de fazer as coisas sumirem, em mágica. Na vida real era diferente. As coisas não sumiam e ele a amava. As coisas não sumiam e ela sonhava com o homem do piano.
Crescia como margarida no canto de um quarto escuro. Indo pra algum lugar, indo, endo, sendo. Olhava pra frente e via as coisas turvas. Não tinha certezas. Não tinha porquês.
O mundo estava ali pra ela e ela estava ali pro mundo.
Abria os olhos.
Ia.
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