quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Sim


Sim, pra mim ainda é sim o amor que tenho por você. Não passa um dia que você não vem na memória, no bom dia, até a noite antes de dormir. O eco fantasma da memória me assombrando como se eu fosse um fugitivo, como se tivesse cometido um crime, mesmo depois de tanto tempo.

Pra mim a distância era uma pausa pra gente se reencontrar num lugar melhor, mas ler agora sua mensagem lançada ao mar há tanto tempo dizendo não, você não quer mais, não queria mais nossa amizade, chegou atrasada, logo eu que vivo longe do mar. E quando perto dele numa noite de ano novo de um ano ruim te mandei mensagem porque a pausa parecia longa demais deformando a forma da canção que eu esperava, chegasse logo ao refrão do que sempre foi bom em nós, não houve eco. Talvez não o eco que eu desejava. "Existirmos, a que será que se destina?" era a frase mágica, mas tudo já era sombrio demais e a luz dessas palavras não incendiaram nosso dom. E você disse que achava que as coisas foram o que tiveram que ser, mas pra mim as coisas deixaram de ser e ficaram de um jeito difícil de viver.

Me sinto a pessoa mais azarada do mundo como se também tivesse desaparecido como um fantasma do que eu era. Ruiu em mim as certezas e muito da imagem que construí pra ser eu e pra atravessar a vida com coragem. Nada cresceu ao redor, nunca mais fui o mesmo, mas sobre os escombros fiz uma casa modesta, mas segura. 

Sigo espantado com a vida, canto porque só nele existo e choro todos os dias em silêncio. Também celebro a vida e sei que a sua agora deu frutos, fruta de sua própria árvore, carne do seu próprio sumo. Celebro sua continuação. 

"Isn't it a pity

Now, isn't it a shame
How we break each other's hearts
And cause each other pain
How we take each other's love
Without thinking anymore
Forgetting to give back

Isn't it a pity" 

Eu sinto que fui um cara ruim pra você. Porque você faz falta demais pra mim.






terça-feira, 26 de setembro de 2017

não

eu acredito que não foi por mal.
mas que fez muito mal pra mim, fez mesmo.
eu sei que você também sente.
mas, se não é igual, não leve a mal, vou fazer diferente.
não fala isso, por favor. eu já passei por tanta coisa.
você não é mais meu amigo. e eu não vou seguir contigo. 
eu quero sim, mas não consigo.
e eu também vou sentir saudade. e eu também vou chorar sozinha.
não peça tempo para eu te esquecer.
eu te prometo que eu jamais te esqueço.
eu gostei tanto de você. 
eu aguentei por muito tempo.
eu fiz o meu melhor, fiz mesmo.
até cansar de tudo isso. 
você foi sim meu grande irmão.
até que hoje eu digo não.
um não pode ser um enorme sim pra vida.
um não pode ser um enorme sim pra si.
e pra vida eu sempre digo sim.
e também pra mim. 
e também pra mim.
e também pra mim.

terça-feira, 7 de junho de 2016

estar amorosamente no mundo



como dançar nos escombros?
como atravessar o nevoeiro?
como não perder o norte?
como celebrar um instante?
como sorrir sem perder os dentes?

como estar perto ainda que distante?
como estar presente ainda que longe?
como estar junto ainda que triste?
como estar forte ainda que leve?
como ter cuidado como ter cuidado?
como dar a mão sem perder o passo?
como não perder o entusiasmo?
como acolher o que acontece?
como ter cuidado como ter cuidado?
como olhar em torno sem perder o centro?
como estar por dentro ainda que no mundo?
como ter cuidado como ter cuidado?
como deixar ser ainda que estranho?
como te abraçar numa tempestade?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

quem é você agora?



esta é uma carta aos trinta anos.
olho o espelho
tem um nariz fora do lugar
um olho mais baixo que o outro
algumas espinhas - estas já deviam ter dado no pé
algumas saudades - já tive mais, já tive mais
uma leve desconfiança
um erguer diferente das sobrancelhas
uma vontade louca de ser tudo
outra vontade enorme de dormir
parece um estágio entre
lagarta e borboleta
quando já não mais se rasteja
nem ainda se voa
quando já não mais se acredita de olhos fechados
mas fecha os olhos com veemência para acreditar
minha inocência é meu triunfo
minha divagação pelo mundo também
pergunto quem foi aquele que realmente amei
ou aquela, ou aqueles, ou aquilos
em relacionamento sério com o palco
e com tudo que me atravessa
quero dançar
quero dançar
quero dançar
eu não terei medo de viver
nem de morrer de amor
meu compromisso é com a alegria
e com o instante inaugural
esta é uma carta aos 30 anos
vida sobrenatural.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Habanera





Dos passos que demos,
muitos bem dados,
a sorte esteve sempre do nosso lado
como a companheira que dança
e acompanha atenta
o giro, o salto,
a confirmação de que só se dança
acompanhado
mesmo sozinho há o espaço,
as pausas,
a respiração.
Voltamos então ao começo da grande volta no salão
pra recomeçar de novo
e de novo...
e de novo...
e de novo...

sábado, 26 de novembro de 2011

cuide-se


era uma vez um casal cheio de cuidados.  cuidaram-se tanto que não se conheceram.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

sem posses


meu amor por você não tem desejo de posse. depois de um longo respiro, posso voltar a escrever. é estranho ver, tamanho desejo aceitando a grandeza do mundo. não quero amarrar você nos meus pulsos. não quero despermitir. a nossa estória foi feita de vôos. despedidas. fins. meios de. aceitar o difícil, desde o início, já era isso. fazer o peso ser leve. sorrir, apesar de tudo. sorrir sempre. pode doer, mas não se esqueça de abrir a janela. continuo na porta de casa. não sei por quanto tempo. não importa. mesmo. enquanto houver desejo, olharei pra sua janela. e, de tempos em tempos, vou ver o mar.